Aqui estou eu. Novembro de 95, Belo Horizonte, Instituto de Olhos, quinto andar, apartamento 38, às vésperas de uma cirurgia de descolamento de retina.

Olho pela janela e vejo, ainda, crianças brincando na quadra de uma escola. Penso em meus sobrinhos e percebo algo em comum entre estas crianças de lugares tão distantes, a mesma alegria estampada no rosto quando estão brincando.

Crianças não sabem o que é vestibular, cartão de crédito, imposto de renda, conta de água, de luz, de telefone, prestação, concorrência, sexo, droga, rocking roll, financiamento de casa própria, monopólio, prefeito, vereador, deputado, senador, governador, ministro, presidente, juíz, advogado, empresário, aplicação financeira, 10 %, ... Elas só sabem o que é brincar.

Crianças não deveriam crescer. Não sabem que o tempo empurra-as para uma grande selva e só percebem esta selva quando passam a acreditar que são adultas.

Um grande contemporâneo disse-me certa vez que os escoteiros oferecem a mão esquerda na hora de uma comprimento, demonstrando, dessa forma, uma interação desprovida de interêsses, um desarme.

Isto me fez perceber que criança não comprimenta criança; pelo menos nunca ví. Talvez elas não precisem demonstrar o que lhes pareça tão natural ...Elas não têm armas ...no seu mundo são todas iguais e nenhuma é mais igual que outra...



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